terça-feira, 26 de maio de 2020

Interestelar - Esperança e frustração


Tempestades gigantescas de poeira. Crise nas plantações que acarretam em ondas de fome pelo planeta. Um investimento massivo e desesperado dos governos direcionado unicamente para a agricultura, na tentativa de suprir a mais básica das necessidades da humanidade: a fome.

Um mundo que se cansou da humanidade e está, aos poucos, se livrando dela. Essas são as regras com as quais nos deparamos já logo no começo de Interestelar, filme dirigido pelo aclamado (ou odiado) diretor de filmes com plot twist, Christopher Nolan.

O primeiro sentimento que o filme me passa é a frustração. Cooper, vivido por Matthew McConaughey, é um ex-piloto da Nasa que devido as atuais condições do mundo, se vê obrigado a abandonar suas imensas habilidades para se dedicar unicamente em tocar uma fazenda, para produção de comida.

Essa realidade servia como grilhões para a mente de Cooper. Seu sogro em um momento lhe diz: “Cooper, você era bom em algo, e nunca pode usar sua competência para nada”. Seu coração clamava por algo mais, por um propósito maior, mas sua realidade o prendia de tal forma que nem mesmo lhe permitia ter uma perspectiva de mudança.

Quantas vezes eu já não senti isso? Muitas noites, com a cabeça escorada no vidro de um ônibus, voltando do trabalho, meu coração queimava por esse desejo. Queremos algo mais, algo maior, diferente da realidade em que vivemos. Mas a correria do dia a dia serve como correntes, as vezes tão bem fixadas em nós que não enxergamos alternativas, nem formas de alterar o que nos deixa infeliz.


Mas o filme nunca assume um tom definitivo de pessimismo. A trilha está sempre lá, nos lembrando que sempre valerá a pena continuar sonhando, mesmo que a situação seja um tanto desesperadora. A trilha tem muito dessa sensação, quase como uma convocação para uma grande aventura, embora ela também traga um sentimento de solidão muito profundos. As vezes é quase como se ela nos conduzisse ao espaço profundo, nos fazendo mergulhar no completo abandono das estrelas, encarando nossa própria insignificância.

Em um determinado momento, Cooper se depara com um escape de toda a frustração que ele carrega. Um drone perdido sobrevoa acima dele, o compelindo a imediatamente parar tudo que está fazendo e se lançar em uma perseguição desenfreada.

E essa cena! Sei que ela é bem piegas, mas eu a acho maravilhosa! O carro cortando pela plantação, o drone distante, a música tocando, o brilho nos olhos de Cooper... um momento em que ele se esqueceu que é um fazendeiro, esqueceu das tempestades de poeira e da situação das lavouras, seguindo apenas seu impulso de liberdade.

Experimentamos isso todas as vezes, no ligar de um vídeo game, no abrir de um livro ou no início de um filme. Fugimos de nossa realidade para embarcar em uma aventura reluzente, esquecendo de nossos problemas, nossas mágoas e as correntes que nos prendem. Mesmo que por breves momentos, conseguimos ser verdadeiramente livres!

É claro que só pra depois voltarmos para a realidade da qual não podemos fugir, hehehe!

Mas então algo acontece e tudo muda na vida de Cooper. Surge uma oportunidade, um chamado para uma missão. O “algo a mais” que ele tanto esperava.  Sem pensar duas vezes, Cooper se lança de cabeça nessa chance, não para salvar a humanidade, mas para salvar a própria alma de seus próprios demônios.

Isso tende a acontecer em nossas vidas também, não concorda? Uma oportunidade que aparentemente é aquilo que estávamos esperando. Prontamente esticamos nossos braços e agarramos essa chance de mudar. Essa chance de triunfar.

Mas nem sempre as coisas vão bem. Nem sempre nossos planos dão certo. E para Cooper, isso é esmagador.

Deixando sua filha para trás (o filho não parece impactar muito ele, hehe!), com a promessa de que da próxima vez que eles se encontrassem, ambos teriam a mesma idade. A missão era cercada de incertezas, mas mesmo assim ele decidiu partir. Sua filha lhe implorou, mas mesmo assim ele foi.

Uma das minhas trilhas favoritas é Mountains. Ela começa a tocar no exato momento em que a tripulação entra na atmosfera do primeiro planeta alvo da expedição. Ela começa quase que imperceptível, apenas um lento tic tac. Mas cada som desse contator impiedoso equivale a um ano que se passava na Terra.

O primeiro planeta que  a expedição encontra ficava muito próximo ao buraco negro, por isso o tempo lá funcionava de forma diferente. A música começa a acelerar, enquanto Cooper percebe que alguma coisa está errada. A trilha explode quando percebemos que a gigantesca onde vem em direção da nave. Um gigantesco imprevisto, que os atinge com força e os mantém naquele planeta mais tempo de que planejavam.

Ao conseguir finalmente sair de sua atmosfera, Cooper se dá conta da terrível realidade. Mais de vinte anos se passaram na Terra. Sua filha cresceu, se tornou adulta. Seu filho casou-se, teve filhos. Toda a vida que supostamente seria a dele, se perdeu e nada lhe restava a não ser chorar.

O preço pago foi absurdamente caro. O tempo passou e nada poderia ser feito a respeito.

Novamente o filme ressoa comigo. Afinal, não somos assim? Só nos damos conta do valor daquilo que temos quando a perdemos. Quantos arrependimentos você coleciona? Quantas vezes você não sentiu desejo de voltar atrás, tomar aquela decisão diferente... quantos amigos não ficam pelo nosso caminho?

Sou como Cooper, hoje sinto saudades de muita coisa que tive anos atrás, que na época julguei não me serem suficientes. Hoje, só restam as mensagens acumuladas e o tempo que passou de forma inexorável.

Em busca da tal mudança, muitas vezes os pequenos detalhes nos passam despercebidos e quando nos damos conta, os anos já se acumulam atrás de nós. Naquele momento, Cooper já não quer mais salvar a humanidade, nem servir para um propósito maior. Ele só quer voltar para casa, para sua filha. 

E quanto mais ele segue na missão, mais as coisas dão errado e mais ainda a situação se torna irreversível. As coisas dão tão erradas que em um momento parece que não será possível mais atingir coisa alguma, nem salvar a espécie, nem voltar para a Terra.

O arco do segundo planeta, onde se encontra o doutor Mann, vivido por Matt Damon é o momento mais baixo de toda a missão, o momento de maior desesperança de todo o filme.

                Doutor Mann havia sido, juntamente com outros astronautas, enviados em uma missão suicida, para explorar o espaço através de um buraco negro, em busca de um planeta habitável. Heroicamente ele se lançou nessa missão e desembarcou em um planeta estéril.

                Ali, ele sabia que nenhuma expedição viria em seu encontro. Seu destino estava definido, morreria ali, naquele planeta distante, esquecido pelo tempo, em completo abandono. A solidão e o desespero o enlouquecem a ponto de mandar dados falsos para a Terra, na esperança de trazer uma expedição em seu resgate.

                Assim como Cooper, Mann tomou uma decisão que lhe cobrou um preço caro demais para suportar e mesmo que suas ações condenassem toda a raça humana, se isso significasse sua sobrevivência, ele estava disposto a fazer.

                Ele se justifica de que seu instinto de sobrevivência o faz agir, enquanto seu próprio remorso o esmaga e o envergonha. Mas mesmo assim, ele sabota a missão toda, praticamente ferra o rolê todo, tentando desesperadamente se apossar da nave e voltar para casa. Mesmo que essa casa esteja condenada.

                Desesperado, talvez até mais que o Cooper, ele rouba uma das naves que a tripulação utilizava para adentrar na atmosfera dos planetas, partindo para tomar a “nave mãe”, que é a única forma de se fazer uma viagem longa pelo espaço.

                Mas ao tentar acoplar, Mann só consegue destruir ambas as naves. A explosão destrói por completo a nave pequena em que ele estava e arremessa a “nave mãe” em direção ao planeta. A nave vai girando para piorar mais ainda. 

Aquela nave não suportaria a entrada na atmosfera. Cooper precisava encontrar uma maneira de para-la e precisava fazer isso rápido, pois o tempo era extremamente curto.

                Nesse momento, vem a minha trilha favorita: No Time For Caution. Cooper vê a terrível situação, percebe o que ele tem que fazer, algo que parece impossível, acoplar com a nave girando freneticamente. Nesse momento, qualquer outro teria falhado. Aquele era o momento para o qual ele estava destinado, uma situação que somente ele poderia resolver.

                Aquele era o momento pelo qual ele estava esperando!

                Um dia eu espero escrever uma cena tão grandiosa quanto essa! Esse é o momento do filme que nos diz que, apesar de tudo dar errado, apesar da situação estar mais que grave, não desista! Não se entregue!

                Afinal, isso é tudo que nos resta. Lutar, cada dia mais, continuar lutando, até que a vida abandone nossos corações. Toda a trilha me passa essa sensação. De que o universo é grandioso e perto dele, não somos nada. Que as coisas serão assustadoras e em muitos momentos, tudo irá dar errado. Mas que em algum momento, conseguiremos passar pela onda gigante, conseguiremos nos fazer valer de nosso propósito, mas nunca sem pagar um preço.

                Nestes dias difíceis que vivemos, essa é a mensagem mais valorosa que podemos receber. A tempestade já cai sobre nós e parece piorar a cada dia. O desespero nos domina em alguns momentos, assim como tomou conta de Cooper em algumas partes do filme.

                Mas só nos resta resistir, lutar até o último instante que isso nos for possível. Ao fim, chegaremos não exatamente aonde pensávamos que iriamos chegar, afinal, a ultima coisa que Cooper queria era encontrar sua filha já idosa. Mas de alguma forma ele encontrou o lugar ao qual ele pertencia agora. De uma forma totalmente diferente da qual ele imaginava, ele cumpriu sua jornada, o “algo a mais” que ele tanto buscava.

                Se cuidem, meus caros, e até a próxima!



quarta-feira, 13 de maio de 2020

Um retorno, um pedido de desculpas e um muito obrigado

Olha só quem está de volta! Os tempos são tão estranhos e imprevisíveis que resolvi ressuscitar meu antigo e esquecido blog. Nesse tempo todo parado aqui em casa, senti uma imensa necessidade de ter um lugar para escrever, pra evitar que meus dedos enferrujem, e qual o melhor lugar para fazer isso do que este? 

Se formos analisar as coisas friamente, o blog está abandonado a quase quatro anos. Quando leio as coisas que escrevia aqui antes, percebo o quanto minha escrita e minha pessoa mudaram. E isso acabou por levantar uma curiosidade: como seriam meus posts se feitos hoje em dia? 

Quando esse blog começou, eu tinha uma grande vontade de contar histórias, mas nem de longe tinha as habilidades para tal. Eu inventava muita coisa, mas não sabia escrever ainda. Houveram inúmeras tentativas de escrever um livro, com capítulos até mesmo sendo publicados por aqui, vamos ver se me lembro dos nomes... “A quarta horda” e o outro acho que os “imortais” ou algo do tipo. 

Mas quem em sã consciência começa a escrever já tentando fazer um livro? 

Até hoje não cheguei a concluir uma grande história. Mas graças a Aline, uma grande amiga que está sempre me incentivando a melhorar, comecei a trilhar o caminho de maneira correta: escrevendo contos. 

Ah, então escrevi muitos contos nesse tempo todo? Muitos é uma palavra forte... escrevi alguns, e graças novamente a Aline, comecei a inscrevê-los em concursos. Já tive alguns contos selecionados e publicados, o que traz uma satisfação imensa. É isso mesmo, se você procurar nos lugares certos, vai encontrar livros com histórias minhas!  E isso mudou tudo. Não que o fato de ter sido publicado faça meu ego subir (e até faz), mas cada concurso que participei, tanto os que fui selecionado, quanto os que não; cada conto que escrevi, me fez evoluir um pouco. 

Toda vez que olho o quão diferente minha escrita está, fico impressionado. Aprendi muito com isso, com o processo de criar uma história curta, as vezes de duas páginas, as vezes de dez. Reescrever, revisar, reescrever de novo... todo esse processo é muito difícil, mas muito prazeroso. 

E nesse ponto, tenho que falar da Luva Editora. 

Já foram três vezes que eles selecionaram contos meus para suas coletâneas. Cada um destes contos exigiu um esforço diferente e produziram resultados bem distintos. O primeiro, a muito tempo atrás, era um conto mais contido, curto... a primeira vez que me arriscava a escrever algo de terror e o segundo concurso que participava. 

A segunda vez, o conto era um pouco maior, acho que oito páginas e tinha requisitos bem específicos: encaixar na mitologia do Senhor Iku que eles estavam criando. Foi um grande desafio. 

A terceira... foi um conto que levei um mês pra escrever. Jurupari, uma história cheia de inspirações em Lovecraft, mas com um tempero tupiniquim. Foram várias versões descartadas antes de encontrar o tom certo pra história e quando vi que havia sido selecionado... fiquei muito feliz... 

E aqui cabe um grande pedido de desculpas. 

Esse conto, Jurupari, foi selecionado para uma coletânea que iria para financiamento coletivo, o Melhor do Te(Ho)rror nacional. Um projeto grandioso, de longe o mais ambicioso do qual já fiz parte. A campanha foi lançada no Catarse e todos os autores selecionados se engajaram na divulgação. Eu mesmo atazanei um bom número de pessoas para contribuírem. 

O projeto foi um grande sucesso, atingindo um valor acima da meta. Mas no meio da campanha, a quarentena chegou por aqui, e devo confessar que isso me tirou o foco da parte final da jornada. Não vou dizer que foi por isso, ou por aquilo, mas vou apenas pedir desculpas. 

Pessoal da Editora Luva, se algum de você chegarem a ler este trecho, saibam que vocês são incríveis, o projeto foi espetacular e foi um grande prazer fazer parte dele. E perdão pela inatividade no final. 

Cabe aqui também um imenso obrigado a todos que contribuíram, aquela minha promessa ainda está em pé, quando o livro chegar em suas mãos, tragam que darei os autógrafos.  

Deixo aqui o site da editora: https://luvaeditora.com.br. O grande livro roxo, de capa espetacular, chamado “A funerária do Senhor Iku” tem um conto meu. 

E é isso, o meu grande retorno ao velho CronicaEx. Tenho várias ideias que quero colocar em prática nos próximos dias, muita coisa que quero escrever e contar, espero poder ver você por aqui. É sempre bom ter alguém lendo, mesmo que seja apenas um.  

Fiquem bem, lavem as mãos, não acreditem naqueles que negam a realidade e até a próxima! 

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Pokémon: Let's Go, Pikachu! and Pokémon: Let's Go, Eevee!


 Uma excelente notícia para os treinadores Pokémon! Vem ai um novo game para franquia.
 Lembra quando saiu o game Pokémon Go para smartphone e você andou por quilômetros fazendo capturas e chocando ovos. Sua jornada no mundo real não foi em vão. Aguenta ai que já eu te explico!

 O novo jogo, cujo trailer foi anunciado nessa terça-feira (29/05/18), saíra exclusivamente para o Nintendo Switch e promete uma gama de interatividade. Então se ainda não tem o console, pode começar a juntar às moedas.

 Como já é de costume na franquia principal, o game terá duas versões, uma chamada Pokémon Let’Go Pikachu! e a outra chamada Pokémon Let’Go Eevee!

 Vamos com algumas informações que foram apresentadas no trailer:
 - Nele vemos que o pokémon principal de cada jogo (Pikachu ou Eevee) se mantém fora da pokebola durante a exploração pelo mapa.
- Os pokémons que podemos capturar agora podem ser vistos no mapa, o que ajuda muito ao invés de passarmos tempo explorando as graminhas e torcer para aparecer o pokémon que queremos batalhar.
- O sistema de captura será semelhante ao utilizado no game Pokémon Go, mas ao invés de usar o dedo na tela do celular para arremessar as pokebolas, será utilizado os joy com com sensor de movimento do Nintendo Switch.
- Pela primeira vez será possível jogar em modo cooperativo (co-op), sendo que os dois personagens aparecerão juntos na tela. Ambos poderão capturar pokémons ao mesmo tempo e se ajudarem nas batalhas em dupla.

 Um novo acessório será vendido para o game, este é o controle pokebola. Este tem o formado de uma pokebola e um botão analógico no centro que serve para mover o personagem. Para realizar uma captura, basta usar o sensor de movimento como se você realmente estivesse jogando a pokebola. Uma luz acende no controle indicando se a captura foi concluída com sucesso.
 Tudo indica que esse controle terá interatividade fora do jogo também. Será possível ouvir o pokémon que está dentro dela, realizando alguns movimentos com o controle.

 Lembra que eu falei lá no começo sobre seus pokémons que foram capturados com o Pokémon Go! Os dois jogos terão conectividade um com o outro. O móbile com o de console. Será possível você capturar um pokémon no mundo real, parear seu smartphone com o Nintendo Switch e utilizar esse mesmo pokémon em sua jornada. O contraria também funciona.

 JOGUE DO SEU JEITO!
 Utiliza seus pokémons como montaria, brinque, personalize seu mascote, lute contra a Equipe Rocket e vença os melhores. Até você ficar cara a cara com Mewtwo.

 Sua primeira aventura em um novo estilo está com data marcada para 16 de novembro de 2018.

 Assista ao trailer de lançamento e escreva nos comentários a sua opinião.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Mute City e algumas músicas mais...



          É inegável o pesada importância que as músicas tem nos jogos, a trilha sonora dita a emoção que o jogador irá sentir, bem como o ritmo do jogo. Ao longo de todos esses anos, foram muitas as músicas que me marcaram profundamente, e não é incomum me encontrarem por ai ouvindo trilha sonora de jogos, até mesmo as do nintendinho.
           Por mais que fossem simples, as músicas dos primórdios dos jogos tem sempre um lugar especial em meu coração, me fazem lembrar de muitas tardes passadas ou jogando meu Dynacom em casa, ou o Snes na casa do Higor.



          Esse magnífico canal faz versões acapela de grandes clássicos, e uma das minhas favoritas é Mute City, acho que a primeira pista de F-zero. Assim como quase todas as trilhas deste jogo, ela me traz um sentimento de estranheza, que  fica mais forte com os cenários das pistas. Sei lá, talvez loucura minha, mas sentia uma certa solidão, eram pistas no meio do nada, com uma cidade ao fundo, e não se via humanos em lugar algum. E na época eu achava esse jogo difícil pra krai (ainda acho na verdade, quase sempre acabo me explodindo fora da pista).
          Outra música que gosto bastante é a Heart of Fire do Castlevânia. Imagino que ela tenha se repetido em vários dos jogos da série, mas onde eu conheci ela foi no primeiro jogo do Nes. Ela tocava na fase do calabouço, cujo chefão era a própria morte em pessoa. Como essa fase me atormentava! Nunca fui capaz de passá-la, e acho que foi a trilha do jogo que mais grudou na minha cabeça!
          Toda a saga Castlevânia traz excelentes músicas, dá pra encher um post só com elas. E essa versão abaixo, nas guitarra, que já devo até ter postado por aqui, faz o sangue ferver com o poder do metal, e ressoar com a nostalgia.


          Dando um grande salto temporal, indo até Dark Souls 3, a épica trilha que embala a batalha contra os irmãos principes. Mais que música magnífica, um instrumental pesado, que cresce junto com a luta. Me lembro de como essa boss battle foi marcante.
          Um chefão duplo, com ataques pesados e velozes, junto com toda a sensação de fragilidade que a série souls traz, a música traz em si uma tristeza e majestosidade únicos. E quando os irmãos se unem para te enfrentar, a música desperta um coral, os golpes do irmão mais velho mudam e se tornam ainda mais mortais... lembro claramente de uma cena, minha vida por um triz, o irmão mais velho ergue a espada sob sua cabeça, segurando-a com as duas mãos. A arma brilha como a luz da alvorada. Em meu coração sei que se aquele golpe me acertar, será meu fim. A espada corta o ar, pesada como o mundo, e uma rajada de luz rasga o chão de pedra. Entoado pelas vozes do coral da trilha, me esquivo nos últimos instantes, me livrando daquele poderoso ataque! Uma das lutas mais épicas que já vivi! É claro que ele me matou pouco depois...


          As músicas são uma das partes mais fodas de ser gamer. Faz parte da experiência, e toda boa batalha é regida por uma boa música. Desde uma invasão alienígena em 8-bits a uma alucinante corrida em 4k, as trilhas sonoras são a alma dos jogos, são aquilo que tornam coisas grandes em coisas marcantes.
          É isso povo, algumas musicas legais pra embalar a noite(ou o dia), se você não tem o hábito de escutar as trilhas dos jogos que você consome, recomendo-o a experimentar, garanto que não irá se arrepender...

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Vash the Stampede


          Nos dias antigos, quando a internet ainda não imperava sobre nossas vidas, nós encontrávamos formas alternativas de nos entretermos. Conseguir um anime novo era coisa difícil, o que tornava a Ultra Jovem, a saudosa revista sobre animes, uma joia rara de informações e diversão. Ainda me lembro da minha primeira edição adquirida, uma revista com o Majin Vegeta na capa, contando sobre a trajetória do príncipe dos saiyajins.

Eita saudade! Queria ter sido mais zeloso com as minhas...

          Eu sempre gostei muito de ler, então era algo comum para mim ler,reler e ler de novo as mesmas coisas.E uma das edições das minhas Ultra Jovem era um guia de episódios, onde eu tive meu primeiro contato com o anime Trigun. Na época, li várias vezes as descrições dos episódios, e embora hoje em dia pouco reste das memórias daqueles textos lidos, ainda perdurava minha curiosidade pelo anime.
          Trigun é um anime com uma ambientação maravilhosa. Velho Oeste, um planeta inteiro tomado por um gigantesco deserto, com pequenas cidades aqui e ali, xerifes e foras da lei empunhando suas pistolas a moda antiga. Pra quem curte o tema, é um prato cheio.
          Nesse mundo existe o maior de todos os criminosos, Vash the Stampede, um pistoleiro que Meryl e Milly , duas funcionárias de uma seguradora que possuem a missão de encontrar Vash e impedir que o mesmo continue a causar problemas. Isso porque Vash deixa as cidades por onde passa em ruínas.
destrói tudo por onde passa, com uma gigantesca recompensa por sua cabeça. O anime nos apresenta a
         Com uma recompensa tão grande em sua cabeça, Vash tende a atrair muitos problemas, sendo que a maioria dos estragos a ele atribuídos nem ao menos foram causados pelo pistoleiro errante. Conhecemos Vash como um personagem bem palhação, alegre e preciso em cada movimento que faz. Vash é um personagem que traz consigo um ideal muito forte, e por trás de todas as palhaçadas existe um passado repleto de dor que nos vai sendo contado aos poucos.




          Vash é um personagem que não mata, embora ele carregue e empunhe uma arma. Isso me lembrou muito Sword of the Stranger, onde Nanashi sempre mantinha sua espada amarrada a bainha. A arma lhe é necessária, mas ele se recusa a usá-la para tirar uma vida. Toda sua filosofia me fez lembrar bastante também do próprio Demolidor, e por influência ou coincidência, ambos os personagens usam vermelho.
     Vash carrega em seu corpo o preço de sua ideologia, os ferimentos adquiridos por tentar salvar todo mundo.
    A questão que o anime levanta é muito interessante: existe mesmo uma forma de salvar todo mundo? Se você salva uma borboleta que está presa em uma teia, não estará então condenando a aranha, que irá morrer de fome? O próprio
          Mas ele acaba sendo alguém bem ingênuo, que chora facilmente, e se magoa mais facilmente ainda. Mas não se engane, o anime não é pesado, tem um climão bem leve e descontraído. Isso porque conta com uma turminha bem carismática.
          Por mais que seja divertido, o formato do anime não me agrada muito. São tramas que em sua maioria duram apenas um episódio, e a história principal demora a engrenar. Mas quando as coisas ficam sérias, ai é pra valer. Existe todo um mistério sobre o planeta, e os acontecimentos que deram a Vash a fama que o precede, e essa parte do anime é muito interessante.
          A trilha sonora foi um dos pontos que mais me marcaram. Ela passa um misto de tranquilidade e melancolia que se encaixam muito bem com aquele deserto hostil que a humanidade tem vivido.
          Trigun influência bastante em uma história que to tentando desenvolver. A figura de Vash vagando errante pelo deserto me é muito inspiradora. Vash é um dos personagens mais estilosos que já vi, adoraria vê-lo em uma abordagem um pouco mais séria. As vezes a parte cômica do anime acaba estragando um pouco o clima.
          Entretanto, tanto a arte quanto a animação são um show a parte. Cada personagem possui adereços e pequenos detalhes que os enchem de personalidade. Apesar de não ter grandes batalhas,
Trigun tem seus momentos de tensão, e uma ótima luta final em seu climax.
          Enfim, esse anime acaba por ser uma ótima recomendação para os amantes de faroeste e de animes com armas de fogo. Ouvi dizer que o anime acaba melhorando alguns pontos em que o mangá acabou por ser superficial, como não li não sei dizer qual dos dois vale mais a pena.
         É isso pessoal, e vamos juntos: Love and Peace! Love and Peace!


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

A vida, o universo e tudo mais

          Sente-se. Pegue seus fones. Escute uma música comigo:


       
          Já faz seis anos desde que esse blog foi criado. E pelos deuses, eu já contei essa história aqui milhares de vezes, mas seja bonzinho comigo, me permita contar uma vez mais. Eu trabalhava com um cara fantástico e insano, cheio de ideias e conhecimento. Nós dois queríamos criar um lugar para postar as aventuras de um cavaleiro andante que estávamos criando.
          Foi assim que, sem me avisar e até mesmo contra minha vontade, o Carlos, Restart ou Ragnar, criou esse blog. E ele tinha um nome excelente: CronicaEx. E com o passar dos dias, decidimos que postaríamos de tudo aqui, tornando este blog um blog de variedades.
           Com o tempo, fui chamando mais gente, até atingir o incrível numero 12. Carlos, Fábio, Jhonny, a santíssima trindade desse blog, foram grandes amigos que tive muito prazer de trabalhar, e muito de mim hoje foi influenciado por eles. Paulo, ou como ele gosta de ser chamado, Kaito, é meu pequeno irmão, com quem divido sonhos e esperanças. Rafael, um dos caras mais gente boa e energia positiva que conheço, sempre alegre e sorridente, com quem tive o prazer de ter longas conversas. Higor, o amigo mais antigo, que as vezes diz o que tem que ser dito, com quem tive inúmeras discussões, mas que hoje eu talvez perceba o quão injusto tenha sido com ele. Damião, o grande sábio que nunca vi pessoalmente, mas me sinto grato por ter tido o prazer de ter várias conversas e poder ter o prazer de chamá-lo de amigo ( um agradecimento também ao grande Makenze por ter nos apresentado). Guilherme, amigo de escola, que sempre esteve ali por mim, sempre lendo as tranqueiras que escrevi, sempre paciente em escutar minhas eloquências. Ico, o meu grande mestre Ico, palavras não são o bastante para descrever o quão incrível e gente boa ele é. Cicero, o Ciço, meu parceiro, meu amigo ao qual já passamos por longos desertos juntos, longas entregas de currículo. Cleiton, o ultimo a entrar, mas não menos importante, cujo destino me propiciou ter o prazer de conhecer, um cara disposto a fazer de tudo pra ajudar, que teve a paciência de me ensinar a jogar rpg e que também tenho o prazer de chamar de amigo.
          Sim, meus onze amigos, vocês estão todos expostos, com suas identidades secretas reveladas!
A vocês eu devo um pedido de desculpas tão grande quanto o que devo aos leitores. Fui um péssimo líder. Chamei onze pessoas para escrever, mas nunca me perguntei se estes onze gostavam de escrever. Falhei em distribuir funções e motivá-los a participarem do blog, em uma época em que eu era mole demais, e reclamão demais (não que hoje eu não solte muitos resmungos), falhei em criar um canal no youtube, não apoiei as iniciativas do Higor por puro capricho e birra provavelmente, falhei nos podcasts, trazia muitas influências dos casts que estava escutando na época, e isso acabou prejudicando o andar da coisa e a matou antes de crescer. E por fim o blog caiu no esquecimento, e nos reduzimos a um grupo de whatsapp parado.
          O que foi, a música acabou? Segura minha mãos, escuta mais essa:


          Minha vida se tornou uma coleção de fracassos, não só aqui no blog, mas fora dele também. Mas como o mestre Yoda mesmo disse, "o maior professor, o fracasso é", hoje eu consigo ver cada ideia errada que tive pra esse blog. Postar notícias? Vídeos engraçados? Trailers? O CronicaEx é um blog vazio? Sim ele era. Cada letra, cada palavra desse blog deve carregar a alma, a essência de quem o escreve, e era isso o que sempre faltou nesse lugar. Ao invés de posts semanais, esse blog precisava de textos com personalidade.
          Minha personalidade, pois EU SOU O CRONICAEX muhahahahaha!
          De uns tempos pra cá, graças a Aline do Sentimentos Estranhos, outra grande amiga que tive o prazer de conhecer, que me empurra de minha preguiça e me faz participar de concursos literários, eu acabei conseguindo ter alguns contos publicados (falarei mais deles em um outro post), o que me fez evoluir muito na escrita e talvez finalmente começar a escrever pra valer.
          Talvez, por que eu não tenho nada pronto ainda.
          Então, como todo herói que se exila e depois retorna mais forte e mais barbudo, o Jyuuken, Gilgamesh, Hell, Healengo, Júlio Cesar, ressurge, ainda sem barba, mas com muita vontade de escrever.
          Mas meu tempo livre ainda é curto, e vocês vão ter que me entender se eu der uma sumida. Ou eu jogo, ou eu assisto, ou eu leio, ou eu escrevo. E se escolher escrever, ou eu escrevo aqui, ou um conto, ou meu livro. São muitas escolhas para poucas horas de liberdade, mas prometo, sempre que possível, trazer alguns textos pelo menos interessantes, ou alguns de meus contos, que um dia darão origem para um mundo muito maior.
          Mas ai você me questiona: mas esse post não está interessante, é apenas um monte de nomes e palavras que pra mim não significam nada. Eu sei meu caro leitor, este post é mais um desabafo, eu gosto de desabafar aqui. E vai, pelo menos você ouviu três musicas legais. Opa, forma só duas? Então pega a terceira aqui:


       
          Assim que abri o blog, com esse post na cabeça, torci o nariz pro antigo design. Tentei mudar pelos templates do blogger mesmo, e foi uma árdua tarefa encontrar este. Pensei em migrar pro Wordpress (de novo, se você pesquisar no google vai ver que já fiz isso), mas a preguiça de aprender a mexer na "nova" plataforma, aliado a falta de dinheiro pra pagar domínio e hospedagem me fizeram ficar por aqui mesmo.
          Mas qual é o problema? A casa ficou bonita e eu to bem satisfeito. Quem sabe no futuro eu não acabe migrando (olha que sou bom em prometer hein). Aos membros, eu não irei exigir que escrevam, apenas que me ajudem a espalhar a palavra. E se você me disser a palavra "Ominnundra", vai ganhar um aumento.
         É isso meus caros, o CronicaEx está de volta, all new, all diferent, como todas as sagas da Marvel ultimamente. Nos vemos por ai! El Psy Congroo! Fim de transmissão!

terça-feira, 31 de outubro de 2017

O guardião

 Faz tempo que não apareço por aqui, ando muito ocupado assistindo Stranger Things... trago hoje, em meu modesto retorno, um conto que escrevi já faz alguns meses para um concurso, e como infelizmente o conto não figura entre os premiados eu detenho os direitos sobre ele, e quero postá-lo!
 As inspirações para esse conto me vieram lendo Vagabond, embora a história não se pareça quase em nada com o arco que estava lendo... enfim, espero que sintam a mesma emoção que senti enquanto escrevia esse pedaço de história! Se preparem pois é um conto bem grandinho!





Sou um guardião antigo, tão velho quanto o mundo, minha origem está nos primeiros dias, os dias de glória, quando os deuses andavam entre os mortais. E pelos deuses fui escolhido como o melhor de minha raça, o guerreiro mais valoroso, selecionado para o mais importante dos trabalhos.
No coração da floresta de Lëngann a mais altiva e poderosa árvore se ergue. Mãe de todas as florestas, suas folhas são douradas, sua madeira é prata reluzente, suas raízes perfuram fundo a terra até atingirem o coração do mundo e seus galhos se elevam até as nuvens nas alturas. A grandiosa Árvore das Eras, ou como os elfos a chamam, Leidrain. 
Os frutos dessa árvore são joias preciosas, cobiçadas por todos os povos. Tais frutos, chamados de Drui’n, concedem cura e grande poder a quem deles se alimentar. Os deuses me deram como tarefa proteger tais frutos e não permitir que nenhum ser que não fosse digno pudesse sequer tocar tais frutos.
A mim foi concedida a honra de me alimentar dos Drui’ns, e somente deles tiro meu sustento. Desde os primórdios a Leidrain me dá sua energia e minha essência foi meticulosamente alterada pela glória destes frutos. Não sou mais humano, ou elfo, ou anão. Sou apenas o guardião da antiga árvore, que nunca irá abandonar seu posto.
Já vi com estes meus olhos cansados muitas eras passarem, deuses novos surgirem, reis se elevarem e caírem, povos irem e virem, sem nunca abandonar meu lugar neste mundo. Já tive incontáveis nomes, entre eles Hoi’n Dëan, aquele que mata; Azzo Sarif, guardião invencível, Ladrak Enem, demônio azul. Todos os povos se dirigem a mim com respeito e temor, e meu poder cresce à medida que as Drui’ns alimentam meu corpo.
Incontáveis inimigos tentaram roubar os frutos, mas a malícia e a ganância em seus corações os tornavam impuros de simplesmente estarem diante da gloriosa árvore. E de forma incansável os abati, como moscas. A impiedade faz parte de meu trabalho e revelei aos meus adversários meu lado mais obscuro. Com o passar dos anos, passei a assumir uma aparência monstruosa, assustadora, para que os mais covardes desistissem de suas ambições, e me poupassem de manchar este santo lugar com sangue impuro.
Alguns de meus inimigos se mostravam mais fortes, outros eram patéticos e foram poucas as vezes que entreguei um fruto. Mas sim, houveram ocasiões em que um guerreiro digno cruzou espadas comigo, poderoso em seu coração, firme em sua determinação, cujos propósitos julguei serem justos.
Mas com o passar das eras, os dignos se tornam mais escassos e a escória se tornou mais numerosa. Naquela tarde, o tempo estava se fechando, uma chuva forte vinha do norte. As folhas iluminavam tudo abaixo da Leidrain, uma luz dourada e opulenta, agradável de se olhar.
Senti meus inimigos vindo ao longe, o cheiro de sangue em suas espadas me causando repulsa, enquanto as ambições em seus corações se elevavam como uma música cantada por um bardo embriagado. Me empoleirei em um galho mais baixo, uma figura sombria e assustadora, afim de causar uma terrível primeira impressão.
Pude notar que um elfo os guiava. Senti a magia que dele emanava e isso me confundiu. Que negócios haveriam de ter elfos com homens em dias como aqueles? Mas nada me restava além de esperar.
Quando eles finalmente chegaram a clareira, o horror tomou conta de seus corações assim que puseram seus olhos sobre mim. Naquela forma, minha pele era negra como piche, minhas pernas e braços eram muito finos e compridos, me dando uma aparência grotesca. Meu tronco era redondo e cheio de protuberâncias, a cabeça era grande como a de um sapo, achatada e deformada, com uma grande bocarra cheia de dentes e olhos estreitos e sinistros. A foice que usava como arma, um toque final de mau agouro.
Pude escutar o elfo sussurrando “Nichiöi Anrak”, mais um dos diversos nomes que seu povo me dera. Observei o grupo de homens com atenção. Não pareciam grande coisa. Um deles estava ferido no ombro, uma flecha envenenada das crianças dos pântanos provavelmente. Estava sendo carregado pelo maior da comitiva, um homem grande e corpulento, com queixo quadrado e nariz quebrado. Trazia uma pesada espada de duas mãos presa à cintura.
Ao seu lado, havia um homem loiro com cara de raposa, trazia uma aljava com apenas algumas flechas em suas costas, parecia esgotado e com medo da morte. Havia também um mais velho, com barba e cabelos grisalhos, o corpo meio rotundo, mas olhos atentos e cheios de sabedoria e experiência. O último, um jovem cheio de determinação, mas também repleto de desesperança, esgotado pela longa jornada, tinha boa aparência e cabelos pretos, bagunçado e sujos. Um príncipe, provavelmente.
Seus corações eram livros abertos diante de mim. O pobre rapaz com o ferimento a flecha chamava-se Ralphan, era amigo de infância do príncipe. Nunca fora grandioso em coisa alguma e sempre vivera na sombra do talento de seu amigo. Era apaixonado por Naila, a mais bela da corte, mas ela é claro, só tinha olhos para o príncipe. Havia prometido a si mesmo que ao voltar daquela jornada se declararia a ela, mesmo que só conseguisse um não.
A flecha o atingira a três dias, e desde então sua vida se tornou um tormento, nada que comia parava em seu estômago e estava sempre enjoado. Sentia-se cada dia mais fraco, e sua esperança estava depositada inteiramente nos lendários frutos da árvore. Trazia consigo uma besta, uma arma feita cuidadosamente por um excelente armeiro, cheia de entalhes em ouro e prata, mas Ralphan nem sequer fora capaz de usá-la. Pobre tolo, morreria ali mesmo, o veneno cultivado naqueles pântanos era algo cruel e fatal.
Com minha voz que mais se parecia um rugido gutural, ordenei-os que saíssem, mas ao invés disso se aprontaram para a batalha. Seus corações estremeceram, mas mesmo assim a coragem não os abandonou. 
Desci de meu poleiro e esperei pela investida de meus inimigos. O elfo, como imaginei, seria apenas o guia e se afastou dos demais. O maior deles investiu, segurando sua pesada espada com as duas mãos. O aço relampejou e desceu veloz em um golpe que poderia me partir em dois.
Me movi para o lado e o pesado golpe impactou contra o chão, levantando folhas e terra com violência. Levantei minha enorme foice e o ataquei, obrigando-o a se esquivar de forma desajeitada. Ataquei-o novamente e dessa vez o cavaleiro quase não foi capaz de evitar o golpe. Quando estava prestes a atacar uma terceira vez, uma flecha cravou em meu peito. O cavaleiro girou seu corpo e colocou toda sua força em um corte horizontal, mas saltei além de seu alcance. Ainda em pleno ar, girei e ataquei com a foice, que se chocou contra a placa peitoral e arremessou o cavaleiro longe.
Mal atingi o chão e outra flecha veio zunindo pelo ar, porém desta tive tempo de me esquivar. Mas o movimento me deixou totalmente desarmado, abrindo uma enorme brecha para o mais velho, que surgiu veloz e certeiro, com um movimento elegante fez o aço de sua espada beijar meu braço esquerdo, decepando-o acima do cotovelo.
Sangue escuro encheu o ar.  Desferi um chute no peito do velho, jogando-o para longe com violência e logo outra flecha precisou ser evitada. O príncipe então surgiu em meu campo de visão, me atacando. Bloqueei sua espada com o cabo de minha arma e desferi um golpe em arco que por pouco não decapitou o jovem.
Os pesados passos do cavaleiro corpulento voltando ao combate me alertaram. Ele vinha a passos largos, brandindo sua espada acima de sua cabeça. Atacou-me pelas costas, mas atingiu apenas o chão, minhas longas pernas me permitiram saltar alto, acima de sua cabeça. Desferi um golpe veloz, a lâmina descrevendo um amplo arco no ar e se cravando diretamente na junta da armadura do cavaleiro, ferindo seu ombro direito.
Seu sangue quente fumegou na foice ainda encravada em seu corpo. Com um forte puxão libertei minha arma e derrubei-o pesadamente contra o chão. Seu nome era Endrio, filho do general das tropas de Vallenin, o reino de onde o grupo estava vindo. Tendo sido treinado desde criança, era um dos espadachins mais fortes do reino, sendo um grande amigo do jovem príncipe que ali se encontrava.
Tudo o que buscava era a força necessária para continuar o legado de sua família, pois seu pai era um gigantesco senhor da guerra e imensas expectativas eram nutridas a seu respeito. Aquela jornada era uma boa forma de começar a construir sua reputação e para ajudar seu amigo aceitaria morrer.
Ia arrancar sua cabeça, mas várias flechas me impediram, me obrigando a recuar. Fui atacado pelo velho e pelo príncipe. Os dois eram velozes e não fui capaz de defender todos os golpes. Senti uma das espadas sendo enterradas em minha barriga, e outra rasgando meu peito. Antes que pudesse saltar, uma flecha cravou em minha testa.
Meu corpo desabou e o êxito tomou o coração do grupo. Exultante, o príncipe ergueu sua espada e soltou um grito de desespero e alegria. Endrio por sua vez caminhou até meu corpo inerte e nele cravou sua espada, como se quisesse se certificar de minha morte.
Tolos. As Drui’ns me tornaram algo próximo a um deus e apenas um corpo não resumiria minha existência. Pensei em algo bem criativo e macabro para minha próxima forma. Das entranhas do corpo morto, comecei a sair, destroçando a forma antiga. Uma larva gigante, com o corpo anelídeo e comprido, as patas eram grandes e arqueadas, afiadas como lâminas e a cabeça era pequena, com uma boca estranha e olhos vermelhos.
Saltei sobre Endrio, que mal teve tempo de reagir. Minhas patas atravessaram a armadura como se fossem papel e o envolvi em um abraço sangrento. E mordi seu rosto. O cavaleiro gritava, enquanto tentava se debater inutilmente. Senti flechas perfurarem meu corpo, mas não o soltei.
Enquanto devorava seu rosto, notei que a amizade que Endrio nutria pelo príncipe era realmente grande. Chegava a ser uma admiração. Ele seguiria aquele jovem até o inferno se fosse preciso.
Soltei o corpo ensanguentado e irrompi veloz atrás do arqueiro que não parava de me acertar. Ironicamente o mesmo ficou sem flechas. Os outros dois não puderam acompanhar minha velocidade e num instante alcancei o indefeso arqueiro. Investi contra ele, mas o maldito saltou sobre mim, enterrando uma adaga em meu olho direito. Desnorteado, tentei parar minha investida, rolando pela grama. Mas ainda estava face a face com ele. Ataquei-o, mas meu alvo era esguio e veloz e evitou minha investida. Tentei atingi-lo com minhas patas, mas falhei nisso também.
Enquanto me concentrava no arqueiro, senti o príncipe cair em minhas costas e cravar sua espada em meu corpo. Arqueei de dor tentando a todo custo derrubar o jovem, que se segurou firme e rasgou ainda mais meu corpo. Me agitei com violência e o nobre foi arremessado pelo chão. Investi, cego pela raiva, saltando contra ele.
Em pleno ar, pude ver o velho tomando a frente do príncipe caído e levantar sua espada. Meu corpo foi de encontro a arma mortífera, que perfurou facilmente minha carne. O velho fez um movimento forte e abriu por completo minha barriga, despejando contra o chão entranhas e sangue fumegante. Novamente meu corpo caiu sem vida.
O mais velho se chamava Soijirou. Era o mestre de armas da família real, responsável por ensiná-los a empunhar uma espada. Acompanhara o jovem príncipe desde os primeiros passos oscilante que dera quando criança e via nele algo além de um discipulo, ou um senhor. Soijirou nunca teve filhos, era um homem infértil para sua própria vergonha. Já havia lutado incontáveis batalhas e suas mãos já estavam cansadas de tantas mortes e de tanto sofrimento.
O velho ficou coberto de sangue e mais uma vez eles acreditaram que haviam vencido. Dei a eles mais alguns momentos de júbilo, antes de lhes mostrar a terrível verdade. Com horror eles assistiram as costas da larva se abrir e um novo inimigo se levantar. Dessa vez, assumi minha verdadeira forma, a que não usava há muitas eras. Bela e serena, talvez a minha aparência mais frágil.
Alto, de pele branca como a neve, orelhas pontudas como as de um elfo, cabelos longos e amarelo pálido, braços fortes e corpo esguio. Sai nu e coberto do sangue azul da antiga forma. Caminhei diante dos olhares horrorizados do grupo e fui até a minha foice, apanhando-a.
Ataquei, um arco amplo e ágil, forte o bastante para matar os três, mas veloz o bastante para apenas atingir o ar. Os três se separaram, fui em direção ao arqueiro, dessa vez um ataque do qual ele não pode se esquivar.
Um corte cruel separou seu corpo em dois. Pobre Leisle. Era um mercenário e trabalhava para o príncipe porque o nobre pagava muito bem. Não tinha grandes sonhos, queria apenas ter ouro o suficiente para encher um baú, encontrar uma mulher para mimar e ser mimado e viver o resto de seus dias sem ter nenhum problema. Nunca acreditou que aquela jornada era uma boa ideia, e agora que a vida lhe escapava tinha certeza absoluta desse fato.
Quando seu corpo caiu, partido ao meio a fúria se acendeu no nobre príncipe, que irrompeu em um ataque cego. Era ágil e habilidoso e tive dificuldades em conter seus ataques. Logo o velho Soijirou se juntou a ele.
Não conseguia fazer nada além de me defender daquela tempestade de aço. Mas quando os dois hesitaram, por um simples segundo, encontrei espaço para um contra-ataque. A foice zuniu descrevendo novamente um arco que iria atingir em cheio o peito do velho, mas sua espada entrou no caminho. A força do golpe o arremessou longe.
Príncipe Kedhran me atacou, feroz e veloz, golpes que quase não pude bloquear. Em meio a tanto golpes girei minha foice e atingi sua coxa, pela junta da armadura. O príncipe gritou de dor e caiu de joelhos. Mas antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, Soijirou irrompeu em uma tempestade de ataques.
Recuei, mas o velho não me deu muito espaço, fazendo chover golpes sobre mim. Ele não poderia permitir que o garoto morresse. Não poderia, de forma alguma. Se pudesse desejar alguma coisa dos deuses, ele desejaria que Kedhran voltasse para casa em segurança, mesmo que isso lhe custasse a vida.
Um golpe errado, talvez por cansaço, talvez por nervosismo, ou quem sabe excesso de confiança o fez cortar apenas o vento, deixando sua guarda totalmente aberta. Em segundos minha lâmina foi de encontro ao pescoço de Soijirou, apenas raspando, mas cortando fatalmente a carne pálida.
O ar se encheu de sangue e o velho caiu. Kedhran mancou desesperado em sua direção. Naquele momento esqueceu-se de mim por completo. Colocou a cabeça do velho em seu colo, enquanto tentava conter o sangramento. Chorava em desespero ao ver que não seria possível.
Soijirou sentia arrependimento. Sua alma já se desprendia de seu corpo, um fino fio de prata que subia até os céus. Sentia-se arrependido, não por estar morrendo, mas por não ter me matado. Sua alma vislumbrou o jovem príncipe uma última vez. Como havia crescido aquele rapaz! Afinal, havia tido um filho. Um bom e honrado filho.
Com os olhos marejados e a coxa ferida, o príncipe pôs toda sua coragem em sua espada, erguendo-a acima de sua cabeça. Seus olhos relampejavam agressividade, preparando-se para terminar com a luta naquele momento. Em um instante, encurtou a distância entre nós e a espada zuni veloz e mortífera. Um golpe heroico, digno das lendas e canções, entretanto facilmente evitável. Esquivei-me para o lado, a espada nada atingiu além do vento e em seguida foi a vez da minha foice dançar.
Veloz como um raio, o aço traspassou sua armadura, com toda minha força posta naquele golpe, cortando facilmente a carne abaixo dela. Um rasgo fatal e em diagonal, começando na base do abdômen e terminando no ombro esquerdo, o sangue jorrou abundante enquanto o príncipe caia contra o chão cheio de folhas.
O rei de Vallenin adoeceu repentinamente, uma terrível enfermidade que o enchera de dores e o aprisionara em sua própria cama. Todos os curandeiros do reino foram convocados, mas nenhum deles obteve sucesso em sequer descobrir que enfermidade era aquela. Foi preciso um mago estrangeiro para que finalmente se descobrisse que se tratava de uma maldição. Uma poderosa maldição.
Existiam poucos poderes neste mundo fortes o bastante para desfazê-la, segundo o mago. Os Drui’ns, frutos da lendária Leidrain, a Árvore das Eras, sem sombra de dúvidas teriam o poder para salvar o rei.
Kedhran nunca se dera bem com seu pai. O rei tinha temperamento forte e gosto por batalhas, enquanto o jovem preferia a leitura e a diplomacia. Muitas foram as ocasiões em que os dois discordaram em brigas ferozes e cheias de insultos. Já não falava com seu pai há quase um ano quando adoeceu.
Agora, só restava a Kedhran o arrependimento. Não odiava seu pai, não de verdade e não suportava a ideia que as coisas entre eles terminariam daquela forma. Aquela jornada nada mais era do que uma tentativa desesperada de ter uma segunda chance, de fazer as coisas certas. Mas agora que até Soijirou caíra, sentia o quão egoísta havia sido. Arrastara-os para a morte, por capricho.
Mas que pelo menos suas mortes não fossem em vão.
Com espanto, vi o príncipe se erguer. O sangue não parava de jorrar e seus olhos pareciam sem vida. Como aquilo era possível? Debilmente ele levantou sua espada, pronto para mais um golpe. E de seu corpo emanou uma grandiosidade que a muito não sentia. Ali diante de mim estava um grande guerreiro, não havia dúvidas.
Sua mente já havia se desfeito em dores, mas enquanto ainda respirasse, lutaria.
Atacou com força e velocidade, um corte vertical que me partiria ao meio se fosse mais veloz. Bloqueei com o cabo de minha foice. E a espada simplesmente atravessou minha defesa, cortando  minha arma como se fosse papel. A surpresa e o espanto tomaram conta de minha mente, e vi lentamente a arma mortal chegando cada vez mais perto.
A espada parou em pleno ar, a centímetros de me atingir. As forças de Kedhran haviam se esgotado antes do seu objetivo final, e espada e cavaleiro tombaram, pondo um final aquele combate. Olhei para seu corpo caído e para minha arma dilacerada, tentando entender que havia acontecido.
 A surpresa me fez baixar a guarda. Nem sequer ouvi a flecha cortando o ar. O moribundo Ralphan usara sua besta pela primeira vez naquela jornada, e tivera uma precisão quase que divina, cravando uma flecha em meu pescoço. Caí agonizando, me engasgando em meu próprio sangue. Estava morrendo novamente. Ralphan soltou sua arma, e desejou ter forças para pelo menos se sentir feliz.
Talvez aquela não fosse a minha verdadeira forma. Não me lembro mais o que fui antes de me tornar o guardião. Não me lembro de meu povo, nem de minha vida antes de me devotar a Leidrain. As folhas caídas no chão começaram a se levantar e a girar em torno de meu corpo, enquanto um fino fio de fumaça subia dele. Tudo se juntou e se misturou, formando um corpo com a forma de um homem.
Caminhei até a árvore e apanhei um fruto. Retirei três sementes, a primeira fiz com que Kedhran engolisse, a segunda foi ao inesperado vencedor. Assustado, Ralphan apanhou a pequena semente e a engoliu, incerto do que isso o faria.
— Você deve melhorar até o final do dia – a minha voz dessa vez era calma e serena – Quanto ao seu amigo, deve levar mais um tempo para se recuperar, mas com descanso e bons cuidados, ficará bem. Os elfos devem ajuda-los. Entregue isso ao seu rei – estendi a ele a terceira semente – Será o suficiente para libertá-lo da maldição.
Os olhos do garoto se encheram de lágrimas. O elfo que os guiara até ali já apanhava o corpo do príncipe, e tomava o caminho para fora da clareira. Reunindo todas as suas forças, Ralphan se levantou, me encarando com orgulho.
— Parabéns Ralphan – senti uma certa diversão ao dizer isso – Sinto lhe dizer que seus companheiros caídos pertencem a Leidrain agora, deve deixa-los para trás. E devem partir agora mesmo!
Com dificuldades, Ralphan foi logo atrás do elfo que carregava seu amigo, e não demorou para que os três deixassem a clareira.
Verdadeiramente eu não havia sido derrotado, facilmente poderia terminar com a vida dos dois em um piscar de olhos. Mas não é a força que torna digno ou merecedor o aventureiro que busca os frutos. É sua determinação. Determinação para continuar a lutar, mesmo à beira da morte. A determinação de Kedhran fora explosiva e me impactara profundamente. Mas a de Ralphan fora a maior, silenciosa e letal.

Olhei para os guerreiros que haviam caído. Daria a eles enterros dignos. E a minha preciosa arma, haveria de reforjá-la mais bela e mais letal, pois o meu trabalho ainda continuaria. Enquanto as eras ainda existirem.